14 novembro 2008

O jardim de Ana



Uma silhueta de cinco anos se equilibra na cerca do jardim
Ana tenta agarrar o sol com a mão direita enquanto ele se põe
Ana conta histórias de um mundo que só ela conhece
O único que as escuta é seu gato Sir Willian Mountbatten

Através da janela podemos ver sua mãe
que não liga para o que se passa na TV
Sua mãe trabalha fazendo arranjos de flores
Ana tem um amor especial pelas rosas de todas as cores

Na cerca do jardim ela cria todo dia uma nova página
Olhando muito além da cerca ela vê muitas cidades de seu reino
Não há fronteiras entre elas, mas ela gosta de nomes
Sir Willian prefere correr atrás das borboletas

Estações se passaram e tudo aquilo além da cerca mudou muito
Mas Ana congelou seu mundo a giz de cera
Sir Willian partiu em uma viajem diplomática para um lugar distante
Sua mãe o acompanhou pouco depois

Ana vive agora em um colégio para meninas
Ela não gosta de freiras, mas deixe isso em segredo (shhh)
Ela fica em um quarto longe das outras meninas
Exigência de seus tios, mas ela não parece sentir falta delas

Nas paredes de seu quarto milhares de rosas pintadas
Rosas de todas as cores.
No teto, um céu laranja de final de tarde
E pássaros que vão e vem através da janela

Ana de todas as rosas
Ana do mais belo sorriso
Sentada no chão do quarto olhando para o teto
Ela sonha com o dia em que vai tocar o céu pintado

Ela ainda vai desabrochar e se abrir em um jardim por sobre o mundo
Acima das nuvens e além de todas as cercas ela vai reinar
Sir Willian voltará de sua viajem e os dois irão se casar
Acima das nuvens no jardim de Ana

Felipe Gangrel para Ana Luiza

22 agosto 2008

Além das sombras daquele quarto



Um quarto escuro, um garoto sentado no chão.
Sim, este sou eu
Abraçando meus joelhos, calado.
Esta figura patética sou eu.

Engolido e fechado dentro de mim mesmo
Sinto-me distante e vazio
Sinto duas confusas almas dividindo este corpo

Uma alma que ama
A mesma alma que criou um castelo de navalhas pra mim
Uma alma que teme
A alma que chora e foge pra longe dentro de mim

Ainda não acenderam as luzes e tudo fica mais frio
O silêncio me acalma e me domina.
Estou ficando louco?

Lembranças que eu fingia não ter
Saudades que eu fingia não sentir
Cada verdade que eu fiz mentira
Todas elas gritando ao mesmo tempo pra me acordar
Eu tenho medo de sair
Tenho medo de acordar e olhar nos olhos dela

Um quarto escuro, trancado por dentro.
Sim, fui eu quem o fechou
Abraçando meus joelhos
Este sou eu isolado por minhas próprias escolhas

Um vento frio, uma brisa
Um aroma que eu já não sentia a muito tempo
Está ficando mais claro, mais quente...

Posso abrir os olhos agora.
E até que não estava tão escuro assim
Não posso sair pela mesma porta por onde entrei.
Ainda está trancada

A luz ainda fraca revela as cartas que ela deixou pra mim
Ali, em baixo da porta
Fui eu quem não as vi, fui eu quem não abriu os olhos

Um grito! Meu nome
É ela! É ela lá fora, posso vê-la da janela.
Ela estava perto o tempo todo, eu é quem não podia sentir

Sinto vontade de chorar por não saber o que fazer ou dizer
E ela me mostra uma nova forma de viver
Ela toca meus lábios e me diz com a voz calma:
Por que não tentou apenas sorrir?

Felipe Gangrel para Luiza Souza

01 agosto 2008

Identidade




Eu sou a águia pairando imponente
E o sangue em minhas garras e a lebre que levo
não diminuem minha beleza
E eu não poderia ser se não fossem meus instintos

Eu sou o sol amarelo no desenho da criança
Feito com giz de cera, preso na porta da geladeira
Ainda sim com um sorriso inexplicável
E eu não poderia ser se não fosse a pureza

Eu sou o seu cão que te espera chegar do trabalho
Eu te vejo como o único amigo
E tudo o que te peço agora é um carinho
E eu não poderia ser se não fosse meu amor verdadeiro por você

Eu sou cada lágrima que você chora
Eu escorro pelo seu rosto, desapareço
Mas se sou sincera não sou esquecida
E eu não poderia ser se você não tivesse motivos pra chorar

Mas eu também sou o sorriso
De quando você encontra alguém por quem sente saudades
O sorriso de quando você vê um filhote ou um bebê
E eu não poderia ser se você não soubesse sorrir

Eu sou meus amigos e eu bebendo
Sem motivos pra beber, sem memórias ruins pra esquecer
E quer saber? Não me importam mais os motivos
Simplesmente estamos aqui e isso já basta

Felipe Gangrel

Difícil



Está cada vez mais difícil ser este eu
Este meu eu que cultiva a distância
Entre o eu e com quem convivi e prometi amar pra sempre
Mas até quando o sempre dura?

Está cada vez mais difícil saber até quando
Até quando meu jeito calado
Vai levar você pra mais e mais longe de mim
E onde será que eu vou te encontrar outra vez?

Está cada vez mais complicado encontrar um lugar
Onde as lembranças tuas não existam
Está cada vez mais fácil me perder nas palavras
Quando lembro de você

Foram tantas as vezes que dissemos “te amo”, e agora?
Bem, agora há muitas perguntas sem resposta
E a única certeza que tenho
É de que ainda te amo, mas ainda não sei definir o quanto


Felipe Gangrel

Meu amigo Pedro



Sentado na varanda tocando sozinho seu violão
Com cara de quem acordou agora mesmo
No embalo das cordas
Está vendo ele ali? É meu amigo Pedro.

Fala o que quase ninguém entende
E fala com a simplicidade de uma criança
Fala baixo pra ninguém ouvir
E fala com o vento, porque este sim pode escutá-lo.

Calado ele continua enquanto apenas as seis cordas falam
Pra puxar conversa eu digo:
Essa brisa está bem calma, não acha?
E ele parece nem ter escutado o que eu disse.

Trago meu violão comigo
E já nos primeiros acordes ele me acompanha
O esboço de um sorriso em seu rosto logo surge
Isso ele não pode esconder

Pedro, olhe lá quem vem chegando
E você que pensava estar sozinho
Agora em meio a uma roda de violão
Encontrou muitos iguais

Diferentes sons e timbres
Diferentes ideais e razões
Mas nada além de estar aqui importa
Amigos que agora e sempre serão seus também

Eles, assim como eu, não vieram à toa
Não vieram porque alguém os pediu
Demoraram sim pra chegar
Mas pense. Eles estavam a caminho

Felipe Gangrel para Pedro Calegaro

08 junho 2008

Eu só queria te ouvir cantar




Não precisa sentir pena de mim
Andei de cabeça baixa apenas por estar cansado demais
Talvez um pouco triste, admito
Talvez um pouco distante

É cansativo continuar caminhando por aqui
Mas acho que seria pior se eu voltasse andando até o começo
E eu nem sei o porquê de estar aqui
Eu sabia antes de sair de lá, mas faz tanto tempo...

A criança que corria com as outras
A criança que sorria quando você passava
Eu te escutava cantar sozinha
Eu era sua pequena platéia

O tempo passa tão rápido por onde eu passo
Uma brisa me empurra pra frente
E parece sussurrar algo em meus ouvidos
Nem sei se devo sentir medo ou saudades
Só preciso olhar pra frente e continuar

O tempo passa tão rápido e deixa marcas
O rosto daquela criança não é mais o mesmo
Os pés dormentes esqueceram-se de latejar
Assim como me esqueci de chorar quando sentia dor

Talvez eu possa parar por agora,
Talvez eu precise parar por agora
É quente aqui, é como o teu colo
A brisa, aquele perfume... É você?

Lembra-se de mim?
O corpo cansado pode não mais correr
Mas posso sorrir mesmo que apenas por dentro
Cante pra mim dessa vez?

Não precisa chorar, estou feliz, é verdade
Cante pra que eu não queira mais acordar
Não me sinto mal, não sinta-se mal por mim
Cante pra mim, mas não me acorde amanhã de manhã
Eu já terei partido

Felipe Gangrel

07 maio 2008

A princesa sem nome



Era tarde da noite quando uma fada veio me contar uma história
Falava de uma princesa que precisava de minha ajuda
Falava de sua tristeza
E de como, às vezes, nem mesmo ela a entendia

Olhando para a Lua perguntei à Deusa Mãe
Sobre a dor da princesa e o porquê de suas lágrimas
Olhando para a Lua deixei rolar uma lágrima
Sem saber os motivo pelo qual chorei

Guiado pelo luar sai em sua busca
E encontrei a torre onde ela escolheu “viver”
Como posso ajudá-la se não posso vê-la?
E a Lua me disse que eu deveria convencê-la a aparecer

Do lado de fora conheci melhor a princesa
E descobri uma garota pronta para pular de um abismo
Se acreditasse que sua dor desapareceria desta forma
Do lado de fora a convenci a olhar pra trás

Do lado de fora ganhei sua confiança
E quebramos juntos os muros da torre que nos separava
E finalmente vi uma garota linda e tão calma quanto a água
Do lado de fora ela me disse que eu não poderia tocá-la

Meu sangue me queimou por dentro
E sem saber o que fazer, perguntei a Grande Deusa
Como posso fazê-la feliz se não posso tocá-la?
Em silêncio a lua me disse para que eu usasse as palavras

Sentados sob o luar finalmente pudemos conversar
E entender mais sobre a dor que ela sentia
E eu também aprendi sobre o fogo que me queimava por dentro
Sentados sob o luar descobrimos que era saudade

Sentados sob o luar decidimos não mais nos fechar
E vimos que as saudades dos amigos distantes nos fariam prosseguir
Enquanto lembrarmos dos momentos juntos
Sentados sob o luar decidimos que seríamos mais do que eternos

Ela sorriu, olhou para a Lua e agradeceu a Grande Mãe
Sem dizer mais uma palavra me abraçou
Eu sorri, e nossas lágrimas ganharam o sentido mais lindo
Nas asas das fadas ganharam o céu e em nossos corações os frutos da verdadeira amizade

Felipe Gangrel para Rachel

19 março 2008

O louco e a rosa


O louco falava sozinho
sentado na calçada
Cansado de falar, o louco correu
Cansado de correr o louco pôde respirar
e sentiu o perfume de uma rosa

Ele tem uma rosa que sangra
Pensando ajudar, o louco feriu a rosa
E a rosa aprendeu a chorar
De tanto chorar,
a rosa aprendeu a dar valor
às pequenas coisas
então a rosa aprendeu a sorrir

O sorriso encontrou o louco
Que tentou explicar os motivos
do sorriso que carregava consigo
E ninguém entendeu...

O sorriso da rosa murchou
e nela cresceram espinhos
até que...
A última pétala caiu

O louco cuidou da rosa
e não se importou com os espinhos
A rosa entendeu o louco
Então o louco e a rosa
aprenderam juntos novos motivos pra sorrir
e assim nasceram os sonhos


Felipe Gangrel

15 março 2008

Oitenta e cinco



Ela sentou-se ao meu lado no banco
Ou fui eu quem se sentou ao lado dela?
Só sei que rimos um para o outro quando isso aconteceu
Ela me contou uma piada sem graça
Porque será que ri tanto?
Talvez eu não precisasse entender

A gente acorda e olha pra cara do outro já rindo
Depois ela joga o travesseiro na minha cara
E eu?
Bem, faço cócegas nos pés dela
Porque acho engraçado vê-la morrendo de rir
E brava comigo ao mesmo tempo

Passamos o dia nessa loucura
Nossa magia é viver cada sorriso
E ter um ao outro
Em cada pequeno detalhe
Em cada verso de uma canção
Talvez tudo tenha nos mantido tão juntos
Por todo esse tempo

Um dia, um ano... Oitenta e cinco anos
E ainda temos a ‘sei lá o quê’ que nos mantêm tão juntos
Talvez olhar para cada marca
E encara-las não como marcas de tempo
Desses que não podem voltar
Mas ter carinho por elas
Simplesmente porque são marcas
De um amor que resiste a tudo

Você pode achar que somos dois loucos
Não deixa de ser verdade
Somos loucos porque encontramos
Uma forma de amor que não conhece o fim
Somos loucos porque você não precisa
Entender o que estas palavras disseram

Você pode não acreditar em nossa idade
Mas escrevi cada linha pra dizer
E que eu ficaria feliz em viver minha vida assim
Porque vivemos o casamento perfeito
E não faltaria muito pra passar a eternidade
Vivendo feliz pra sempre

O banco ainda está lá
Ainda posso ver nóis dois
Eternos enquanto fizermos ser
E ninguém precisa nos entender

Felipe Gangrel para Ana Luiza

02 março 2008

Para os melhores amigos do mundo



Amizade...
É a palavra mais linda
Amizade é paixão eterna
Independente de sexo e idade
Amizade é poder dizer te amo
sem se preocupar com a hora e o lugar
Amizade é não haver distâncias
Não existem medidas
E nem as palavras de todos os poetas podem definí-la
Amizade só pode ser sentida e vivida

Amigos de infância
Amigos de oito dias ^^
Amigos eternos
Amigos pra chorar e sentir saudades
Amigos pra rir e não deixar de ser criança

Promessas em cada um de nós
Nossa amizade vai durar pra sempre
Pra sempre? Só isso?
Pra sempre é pouco com a gente
Vai durar pra sempre e muito mais, podem ter certeza

Nós somos muitos e somos um só
Pacto de sangue, sorrisos, abraços, lágrimas e...
Pulseiras da lembrança né?

A noite olhamos pro céu
e vemos as estrelas
as mesmas estrelas daquele dia

É... ainda podemos sentir o abraço de cada um
E nada muda o sentido de com lágrimas nos olhos
Dizer te amo

Felipe Gangrel

28 fevereiro 2008

Vamos brilhar outra vez



Tem gente que passa a vida inteira sozinha
Tem gente que acha que tá sozinha
E tem gente que chega em nossa vida pra ficar

Muitos procuram olhando pro chão
Outros procuram com medo de encontrar
Muitos procuram olhando pro céu
Buscando as estrelas distantes
E alguns, como eu, tem estrelas que caminham lado a lado
Estrelas como você, Bia

Lembra de quando nos conhecemos?
Você pegou meu celular e saiu correndo
Eu corri atrás de você e até hoje corremos juntos
Rimos juntos, pagamos micos juntos

Estrelas que brilham no céu juntas
Em uma constelação bem perto daqui
Uma constelação chamada Nossa amizade
Onde nossos sorrisos podem ser vistos por todos
E onde nossas loucuras brincam feito cometas no céu

Estrelas que não se cansam de brilhar…
Agora podemos olhar para o céu que criamos
Levante sua mão junto comigo, isso…
Ligue as estrelas do nosso céu
E elas sempre vão dizer Te amo

Felipe Gangrel para Bia

Nossas ondas



Mude sua mente essa noite
Deixa eu te fazer lembrar de quando nossas asas batiam juntas
Nossas pequenas asas cresceram e buscaram o sabor dos ventos
Lembra de quando traziamos a lua pra mais perto?
Lembra de quando só ela era nossa cumplice?
O tempo passa
Mas, como ondas, ainda buscamos a praia um do outro
Nos encontramos em ondas. Nossas ondas…
Lembra de quando dissemos as palavras ditas por muitos?
Ou de quando aprendemos com o outro o que ninguém nunca ensinou?
Diziamos olá ao paraíso
Íamos do céu ao inferno
Dançavamos a dança dos demônios e dos anjos
Fechavamos os olhos pra ver na mesma direção
Não havia medo, não havia nada além de nós
Em nossos corpos a Terra prometida…

Olhe pro céu essa noite
Ela ainda está lá, disfarçada como se nós não soubéssemos
Sussurrando em nossos ouvidos
Quem sabe um dia poderemos voar alto outra vez?

Felipe Gangrel

Na sua janela




Não se preocupe comigo

Estou bem, sentada aqui na janela

Percebeu a boa visão que você tem daqui de cima?

Alguma vez já parou para conversar com os pássaros?

É, eles não costumam falar muito


Você ainda não se levantou

Gostaria de poder ficar mais algum tempo com você, bem ai

Seria tão bom passar mais uma noite

Olhando você dormir e ver você sorrindo

Mas aquele porta-retratos se quebrou


Eu costumava cantar pra você

Enquanto você sonhava longe daqui

Eu costumava imaginar que isso não teria fim

E você…

Bem, você sorria, e isso era o suficiente


As palavras começam a voar pela janela

Eu ainda estou sentada aqui tentando entendê-las

As palavras começam a voar pela janela

E eu pulo do último andar cantando seu nome


Pena você não estar mais perto de mim

Enquanto o chão se aproxima

Você vai olhar pra mim agora?



Felipe Gangrel

Quem sou eu?



Quem sou eu?

Não, quem eu fui…
Eu fui um degrau em sua vida
Um degrau pra ela poder chegar ao céu que eu queria
Um degrau pra ela poder sentar e chorar
Um degrau na escada dela…
Agora sou apenas um degrau

Quem sou eu?

Não, como estou…
Não estou bem
Estou confuso, estou errado, cansado
Cansado de tentar ser a paz que eu não era
Cansado de não encontrar a paz nela
Agora me deixa sentado aqui vendo a chuva

Quem sou eu?
Não, o que eu quero…
Eu queria poder fazer o tempo voltar
Mas não adiantaria nada se a culpa foi minha
Eu queria poder voltar não antes do erro
Mas antes… pra poder dizer a verdade
Agora o tempo não pode voltar, não pra mim

Quem sou eu?
Acho que já estou entendendo
Sou igual a você
Sou humano como você
Sou alguém que errou muito,
se arrependeu dos erros e voltou a cometê-los
milhares de vezes…

E agora?
Agora é hora de acordar
e tentar fingir que tudo isso foi só um sonho
É hora de continuar a mentir pra mim mesmo
Hora de fingir que não vou sentir sua falta
É hora de entender que estas palavras não vão mudar o que fiz
Que não vão mudar os erros, as mágoas, as lágrimas
Mas é hora de ter esperança de que um dia eu aprenda

É hora de encontrar um degrau pra sentar e esperar que você me ensine a viver

Felipe Gangrel